*Por Meiri Farias
Sempre acreditei que biografia é um gênero superestimado, mas não no quadrinho. Muito em função das características próprias da mídia, a arte sequencial permite retratar personalidades de modo mais íntimo e concreto do que na prosa. Persépolis, Maus e Retalhos são algumas das obras que já se tornaram clássicos para os leitores de HQ e se usam de narrativas autobiográficas. Além disso, esses exemplos trazem uma característica em comum que é o grande trunfo de “O melhor que poderíamos fazer”: a contextualização histórica de determinado período social/ou político, onde o autor ou sua família estão inseridos.
“O melhor que poderíamos fazer” é um daqueles quadrinhos que fisgou pelo título. Em tempos de desgaste do corpo e da mente, a mensagem de capa da HQ da vietnamita Thi Bui parece um consolo e uma absolvição de nossos próprios dilemas. Comprei sem conhecer a autora, sem saber muito sobre a temática, mas apostando na mensagem da capa que sugere desde o início uma sensação melancólica de aceitação.
Thi Bui conta a jornada de sua família que precisou se deslocar em busca de abrigo depois da queda do Vietnã do Sul. A busca por uma vida melhor e a possiblidade de um futuro digno, deixaram marcas nas relações familiares e a HQ é um resgate histórico e pessoal para autora, que passa a entender a si mesma, quando começa a conhecer em profundidade a história pregressa de seus pais. O tom melancólico da narrativa ganha ênfase com o traço delicado de Bui contrastado com os tons terrosos que acompanham toda a historia.
É curioso como é fácil se envolver com a narrativa, mesmo se tratando de um contexto completamente diverso do que vivemos no Brasil. Ainda assim, acompanhar o drama de refugiados e descobrir junto com a autora o que levou a família a desenvolver determinados comportamentos, gera um tipo de identificação muito profunda em qualquer pessoa que vem de família migrante. É natural julgar as atitudes inadequadas de Bô ou a estranha frieza de Má (pais da autora/personagem) nos primeiro capítulos e sentir as certezas e julgamentos sólidos derreterem cada vez que entramos mais profundamente em seus passados.
“O melhor que poderíamos fazer” é uma história triste, com uma pitada de esperança. Porque mais forte e significativo que a certeza, é a coragem de aceitar e lidar com o caminho permitido pelas circunstâncias. E se orgulhar de ter feito o melhor possível.
Título: O melhor que poderíamos fazer
Autora: Thi Bui
Publicão: Editora Nemo
Ano: 2017
Avaliação:
¹/²
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